quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Abílio Marcos, pintor

Os críticos oficiosos têm dele dito coisas muito bonitas, eruditas e por vezes contraditórias: que é impressionista, abstracto lógico, pós-expressionista geométrico, utilizador de metodologia naturalista, sei lá que mais! Bem, se é esse o papel do crítico estou completamente fora da especialidade porquanto, sendo consumidor e apreciador de arte, tento interpretá-la e julgá-la através das sensações e emoções que a sua observação provoca. Quero dizer que o melhor critério para catalogar o artista se aproxima do dilema gostar, ou não gostar. Evidentemente, o conhecimento da história da arte e das influências visíveis numa determinada obra são importantes referências para avaliar da sua técnica e originalidade.

É altura de afirmar sem mais delongas que a pintura do Abílio é uma pintura de que se gosta…muito! Por variadíssimas razões. Primeiro, o ser humano na sua simplicidade e humildade perante a grandeza da obra criada. Segundo, o trabalhador da pedra com mãos rigorosas e ferramentas precisas que talham as formas convenientes, e são a sua escola de vida e de belas-artes. Terceiro, o viajante de outras geografias, EUA e França, onde os grandes espaços e mentalidades abertas lhe forjaram uma inspiração atípica do país onde nasceu. Abílio Marcos é o pintor das grandes estruturas urbanas, industriais, metafísicas e poéticas, estas últimas exclusivamente abstractas, assim mesmo, sem nada que as justifique ou a que devam comparar-se para se tornarem compreensíveis. Belíssimos gritos no mistério da vida!

As estruturas são sempre projectadas na vertical, ou na horizontal. No primeiro caso vemos as imagens com o olhar tridimensional divagando no visível. No segundo caso vemos os mapas e radiografias de imagens irreconhecíveis pela distância a que se vêem. Não é que o Abílio Marcos se deixe fascinar pelo absurdo abstracto da criação inconsciente, ou subconsciente. Nitidamente, ele prefere as grandes estruturas do conforto ocidental. Os arranha-céus, as redes viárias sobrepostas, os efeitos de luz, o branco ou negro em fundo frequente como se a obra fosse gerada do nada, ou da noite.

Surpreende ainda na obra do Abílio a paleta da cor. Utiliza o espectro luminoso em toda a sua amplitude e tonalidades, do neutro inefável ao forte provocador com um denominador comum de harmonia e mestria. Atrevo-me a dizer que o Abílio Marcos, detentor de excelente técnica, aliás apoiada por uma invulgar inspiração de longo curso que vai do quase naturalismo ao pleno simbolismo abstracto e poético, corre muito bem o risco de vir a ser considerado um dos maiores pintores portugueses da actualidade.

Armando Taborda ( Escritor, poeta )
Lisboa, 2007 Março 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário